Só a humanidade consegue projetar o futuro e trabalhar o recurso da memória e da consciência, de modo a tornar seu cotidiano mais leve. É muito humano pensar adiante e fazer planos. O poder público, criado por humanos e para humanos, é uma extensão desta necessidade de planejamento.
Por mais que os dias atuais sejam desafiadores para qualquer esfera governamental do Brasil – União, estados e municípios –, não se deve negligenciar os próximos. O futuro depende dos atos do presente. Claro, os desafios contemporâneos estão quase todos relacionados à dificuldade para se retomar a atividade econômica. Mas são algumas ações de agora que poderão tornar os tempos vindouros mais leves.
Vejamos, por exemplo, a tentativa do governo de Mato Grosso do Sul de estabelecer um canal direto de negociação com o governo da Bolívia para o fornecimento de gás natural. A iniciativa poderia muito bem ser articulada pelo governo federal, o qual tem legitimidade e soberania para firmar relações internacionais, mas restou às autoridades locais, de um estado da região de fronteira, articular o acordo, que, conforme as notícias desta semana, está avançando.
Torcemos para que a iniciativa, que deverá estar totalmente concretizada até 2025, tenha êxito. Em primeiro lugar, porque leva mais uma alternativa de renda e desenvolvimento para as cidades de Corumbá e Ladário. A região, porta de entrada no Brasil do gás natural importado da Bolívia, precisa de um “gás novo”, uma vez que outras atividades, como a mineração, por exemplo, já não geram os resultados que outrora proporcionaram aos dois municípios.
Será um investimento de US$ 300 milhões (mais de R$ 1 bilhão) e ainda deverá ajudar na geração de energia para as duas cidades, consideradas por aqueles que estão em outras regiões do Brasil e de Mato Grosso do Sul muito afastadas.
Em segundo lugar, a conclusão desta usina termelétrica garante um volume maior de importação de gás natural do nosso vizinho andino e, consequentemente, melhora a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do Estado. Recentemente, a redução dos recursos oriundos do gás natural piorou ainda mais a situação fiscal do Estado.
Os acordos entre as autoridades de Mato Grosso do Sul e da Bolívia são importantes para o futuro. Garantem, no mínimo, que o Estado fique menos vulnerável a crises econômicas